Agatha Christie era um gênio da literatura universal. Escrevi esta frase sem pensar duas vezes. Duvido que alguém refute a afirmativa, mas bem que eu me divertiria vendo o pobre coitado tentar.
Aliás, Christie é mais um dentre uma longa lista de autores britânicos que têm aquela coisa especial – uma capacidade de ser universal, atemporal e cativante, sem perder o seu próprio DNA literário, sua digital que os faz únicos.
Por exemplo, “Sem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marques é soberbo, sem dúvida. Mas quem é que consegue encarar aquele texto uma segunda vez? Poucos corajosos, em minha opinião. É preciso ter estômago, fibra! Como olhar para um abismo: você reconhece a grandeza do bicho, mas não se aproxima muito com medo de ser tragado por ele, entende? Um autor inglês causaria a mesma sensação de atemporalidade com o “Lugar Nenhum”, de Neil Gaiman.
Voltando a Christie – e a seu maravilhoso trabalho -, li recentemente “Cai o Pano” (Curtain). A última aventura do detive Hercule Poirot. E, é claro, a autora conseguiu me deixar aquela situação de “uau!” enquanto me guiava pela história deste assassinato.
O livro merece ser lido por dois motivos – primeiro, e o mais triste, é que este é o ultimo a ser desvendado pelo detetive belga. E o segundo, o “modus operandi” do criminoso.
E a mensagem que a solução do mistério nos traz: o quão estamos vulneráveis.
O crime perfeito existe.
Já idoso e doente, Poirot volta ao lugar onde resolveu seu primeiro caso em solo inglês – a mansão de Styles. Quem narra a história é seu amigo Arthur Hastings, convidado a ir para a velha mansão, agora transformada em hotel.
Quando Arthur encontra Poirot, a primeira grande surpresa: um assassinato está prestes a ser cometido. E ele já sabe quem é o assassino. O que velho belga queria era que o outro o ajudasse a encontrar a vítima!
Não é contado o nome do criminoso. Não há motivação aparente entre os crimes – exceto que em todos eles, aqueles que foram apontados como seus autores exibiam, de fato, todos os indícios de o terem cometido. Era essencial descobrir a vítima – a vítima, a única ligação com o assassino – para impedir que uma tragédia aconteça.